Emissões de CO2

Como ocorrem as emissões de CO2 por desmatamento, por que reduzir as emissões, como o fogo e a regeneração de florestas impactam nas concentrações de CO2 na atmosfera.

Emissões de CO2 por desmatamento

Quando uma árvore morre, o carbono nela armazenado é liberado para a atmosfera. Esse processo é natural e parte do ciclo do carbono, que envolve todos os seres vivos. Porém, quando ocorre a mortalidade expressiva de árvores, como no desmatamento, há grandes emissões de CO2.

Esse processo é potencializado quando essa mortalidade acontece em uma mata densa, composta de muitas árvores de grande porte, que possuem enorme quantidade de carbono que foi sendo armazenado durante seu crescimento ao longo de muitos anos, como no caso da Amazônia.

Do ponto de vista das emissões de CO2 é por isso que o desmatamento é um problema. Aqui vamos nos dedicar a entender um pouco mais sobre o processo de emissão de CO2. No entanto, o desmatamento não deve ser avaliado a partir de um único aspecto. Navegue também por nossos conteúdos de biodiversidade, ciclos de formação de chuvas, sociedade, economia, para compreender outros aspectos importantes sobre o tema.

Por que reduzir as emissões de CO2?

Segundo o novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a concentração de CO2 na atmosfera é maior agora do que foi em qualquer outro momento dos últimos 2 milhões de anos. Essa concentração tão elevada de CO2 e outros gases de efeito estufa tem desencadeado um processo de aumento da temperatura média do planeta.

Especialistas têm, portanto, chamado a atenção para a necessidade urgente de reduzir as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa pela sociedade, de modo a frear o aumento de suas concentrações na atmosfera e, consequentemente, o aquecimento do planeta, que pode causar desequilíbrios como mudanças nas estações secas e chuvosas, derretimento de geleiras e intensificação de eventos climáticos extremos.

O impacto do desmatamento da Amazônia nas emissões de CO2

Segundo o relatório de 2020 do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, o Brasil ocupa o sexto lugar entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, com 3,2% do total mundial.

De acordo com o 4º Inventário Nacional de Emissões, as mudanças de uso da terra foram responsáveis por 27,1% das emissões totais de gases de efeito estufa e 41,8% das emissões de CO2 no Brasil em 2016 (ano-base do inventário). Já entre 1990 e 2019 as mudanças de uso da terra foram responsáveis por 55% das emissões de CO2 do país, segundo os dados disponíveis no portal do SEEG.

O Inventário Nacional considera as emissões líquidas para o setor de uso da terra. Ou seja, do total emitido devido à perda de vegetação (emissões brutas) é descontada a remoção de CO2 da atmosfera, o que chamou atenção para o fato de que, quando consideradas somente as emissões líquidas, o setor de mudanças de uso da terra é responsável por 93% das emissões de gases de efeito estufa do país, e 87% das emissões do setor são resultantes do desmatamento do bioma Amazônia.

Como ocorre a emissão do CO2 por desmatamento

Embora os cálculos de emissões sejam feitos, em sua maioria, com base no volume e na densidade de árvores derrubadas, projetados no momento em que ocorreu esse desmate, as emissões em si ocorrem de forma gradual, ao longo de muito tempo.

Adaptado de INPE-EM / Inpe

Quando uma área de floresta é derrubada, na maior parte das vezes as árvores de maior valor comercial (cerca de 15%) são separadas, vendidas e transformadas em produtos madeireiros. Como essa madeira será preservada, o carbono nela armazenado também será mantido com aquela peça, entrando em um processo bem mais lento de emissão, que se dará com a deterioração daquele produto.

Somente após a retirada das árvores com valor comercial elevado é feita a limpeza da área, com o uso de fogo na maioria das vezes. Essa parcela das árvores, que estava sobre o solo e é consumida pelo fogo, representa cerca de 42% do total e libera instantaneamente o carbono nela armazenado.

Após a queima, a matéria orgânica morta que restou sobre o solo vai se decompondo e emitindo o carbono lentamente, ao longo de muitos anos, assim como as raízes dessas árvores.

Como esse processo ocorre ao longo de muitos anos, a emissão de CO2 de uma área desmatada somente será concluída anos após a derrubada das árvores. Isso significa que um desmatamento ocorrido há muitos anos ainda continua impactando nas emissões de CO2 atuais. Da mesma forma, ainda que o desmatamento na Amazônia fosse completamente cessado hoje, ainda teríamos emissões derivadas desse processo ao longo dos próximos anos.

Todos os números aqui mostrados são utilizados no Inpe-EM. O sistema Inpe-EM, do Inpe, calcula as emissões de CO2 considerando todo esse processo, que é descrito nas publicações científicas Houghton et al. (2000) e Aguiar et al. (2012).

Como o fogo afeta as emissões

Além das emissões decorrentes do desmatamento, outras perturbações na floresta também impactam nas emissões de CO2. Quando ocorre um incêndio florestal, muitas árvores são afetadas, queimando total ou parcialmente, algumas inclusive morrendo alguns anos após a queima. Toda essa matéria orgânica queimada libera para a atmosfera parte do carbono por ela estocado, afetando tanto os níveis de CO2 emitidos para a atmosfera quanto os estoques de carbono da floresta. Para conhecer mais sobre esse processo acesse nosso conteúdo sobre fogo.

O que acontece caso a área desmatada se regenere

Diante das constatações sobre a concentração acima do normal de CO2 na atmosfera e seus impactos no clima, toda a sociedade vem sendo pressionada a reduzir suas emissões.

Do ponto de vista das mudanças de uso da terra, há a necessidade de recuperar áreas onde houve perda da vegetação. Com isso, parte do carbono emitido para a atmosfera pode ser absorvida novamente pela vegetação.

Embora esse seja um aspecto muito importante a ser considerado e que pode realmente impactar positivamente na redução das emissões, é importante ter em mente as diferenças temporais dos processos de emissão por desmatamento e da recuperação das florestas, além de outros fatores, como a dificuldade de recuperar a biodiversidade nessas áreas.

Referências

Aguiar, A. P. D., Ometto, J. P., Nobre, C., Lapola, D. M., Almeida, C., Vieira, I. C., … & Castilla‐Rubio, J. C. (2012). Modeling the spatial and temporal heterogeneity of deforestation‐driven carbon emissions: the INPE‐EM framework applied to the Brazilian Amazon. Global Change Biology, 18(11), 3346-3366.

Aguiar, A. P. D., Vieira, I. C. G., Assis, T. O., Dalla‐Nora, E. L., Toledo, P. M., Oliveira Santos‐Junior, R. A., … & Ometto, J. P. H. (2016). Land use change emission scenarios: anticipating a forest transition process in the Brazilian Amazon. Global change biology, 22(5), 1821-1840.

Albuquerque, I. (2020). Análise das emissões brasileiras de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas do clima do Brasil 1970-2019.

Assis, T. O., de Aguiar, A. P. D., von Randow, C., de Paula Gomes, D. M., Kury, J. N., Ometto, J. P. H., & Nobre, C. A. (2020). CO2 emissions from forest degradation in Brazilian Amazon. Environmental Research Letters, 15(10), 104035.

Brasil (2020).Quarta comunicação nacional do Brasil à convenção-quadro das nações unidas sobre mudanças do clima.

Houghton, R. A., Skole, D. L., Nobre, C. A., Hackler, J. L., Lawrence, K. T., & Chomentowski, W. H. (2000). Annual fluxes of carbon from deforestation and regrowth in the Brazilian Amazon. Nature, 403(6767), 301-304.

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