Educação ambiental e monitoramento da poluição do ar e queimadas na Amazônia

Programa de Educação Ambiental sobre Poluição do Ar (EducAIR) e o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA)

Esse conteúdo foi desenvolvido por Rodrigo Augusto Ferreira de Souza e Igor Oliveira Ribeiro da Universidade do Estado do Amazonas – UEA

O EducAIR – Programa de Educação Ambiental sobre Poluição do Ar, liderado por pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), com o apoio da Cuomo Foundation e Fundação Universitas de Estudos Amazônicos (FUEA), foi pensado para contribuir na mudança da realidade da próxima geração dos povos amazônicos frente a grande ameaça das queimadas na Amazônia e os impactos das suas emissões na qualidade do ar, visando despertar o ambientalismo nos alunos, principalmente, aqueles de escolas públicas. O programa foi desenhado para mostrar e conscientizar as crianças da Amazônia de como as nossas ações afetam a qualidade do ar em ambas as formas, positivas e negativas. Cidadãos informados constroem um mundo melhor. Ao trazer à tona esse conhecimento e informações sobre o que respiramos, espera-se criar uma compreensão compartilhada de quais podem ser caminhos certos à frente.

Igor Oliveira Ribeiro

O impacto da poluição na saúde

A poluição, seja ela qual for, está causando prejuízos significativos para a sociedade e ao meio ambiente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,2 milhões de mortes a cada ano são resultado da exposição à poluição do ar. Grande parte da população mundial (91%) e cerca de 2 bilhões de crianças vivem em locais onde a poluição do ar excede os níveis recomendados pela OMS. Além disso, estudos recentes mostram que a poluição do ar custa, a cada ser humano, uma redução na expectativa de vida média de 2 anos. As fontes de emissão desses poluentes são diversas ao redor do mundo, tanto pelo homem quanto pela natureza, indo desde um simples aparelho eletrônico doméstico consumindo energia até as emissões por carros, indústrias, atividades vulcânicas, entre outras. Um agravante é que a poluição do ar não tem fronteiras. Os poluentes podem viajar centenas de quilômetros.

Na Amazônia, as queimadas florestais e o desmatamento têm um papel importante na emissão de partículas poluentes para a atmosfera, elevando a sua concentração no ar de forma significativa. Em 2019, 81% dos municípios da Amazônia Legal registraram dias com concentrações de material particulado acima das recomendações da OMS.

Com isso, a realidade é que essa fumaça nos céus da Amazônia, um inimigo nem sempre visível, tem gerado danos para todos os povos da região, principalmente os mais vulneráveis como os indígenas e ribeirinhos. Em 2020, o Instituto Socioambiental (ISA) realizou o primeiro estudo nacional sobre a ligação entre os incêndios florestais e a saúde indígena e mostrou um aumento de 25%, em média, nas hospitalizações de indígenas com mais de 50 anos de idade, devido aos problemas respiratórios.

Os desafios para combater essa realidade da poluição do ar e degradação da Amazônia são grandes. A educação é certamente é peça chave neste quebra-cabeça. Os professores podem atuar em conjunto com seus alunos para que eles possam fazer a diferença no futuro – seja em suas vidas pessoais, como empreendedores ou cientistas ambientais.

O programa EducAir

Dentre os objetivos do EducAIR, conscientizar os alunos do ensino fundamental e, consequentemente suas famílias, sobre a importância do ar limpo e da conservação da Amazônia é o pilar central. As crianças aprenderão a medir a poluição do ar por partículas em sua escola e comunidade através de um sensor de monitoramento de baixo-custo em tempo real e da plataforma online SELVA, um Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental, ambos desenvolvidos pelos pesquisadores do projeto, sendo a maioria voluntários que acreditaram na ideia e na importância da temática. Essa iniciativa está alinhada às novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), do itinerário formativo da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, uma vez que aprender Ciências da Natureza vai além do aprendizado de seus conteúdos conceituais. Assim, a partir do entendimento dessas informações, as crianças serão apresentadas e motivadas a ações simples que podem tomar para ajudar a melhorar a qualidade do ar local, para que todos possam viver, estudar e brincar em um ambiente saudável.

O programa traz para os alunos atividades práticas destinadas a promover a colaboração e habilidades de pensamento crítico em diferentes tópicos relacionados à poluição do ar, como:
• O que tem no ar?
• Quais as fontes de poluição do ar?
• Queimadas na Amazônia e seus efeitos na qualidade do ar;
• Monitoramento da qualidade do ar;
• Efeitos da poluição do ar na saúde humana e nos ecossistemas;
• A conservação da Amazônia e o que fazer para diminuir a nossa exposição a poluição do ar.

Gerson Freitas/ASCOM UEA

Diferentes formatos

O programa EducAIR também está elaborando materiais digitais para serem usados em situações de ensino à distância, híbridas ou tradicionais, em que os alunos poderão encontrar diversas informações e conteúdos educativos no site do projeto EducAIR (www.educair.com.br), acompanhar o monitoramento da qualidade do ar em tempo real pela plataforma de monitoramento ambiental SELVA (www.appselva.com.br) e nas redes sociais do EducAIR (@educ.air), onde conceitos fundamentais serão compartilhados com linguagem muito amigável, além de poderem trocar informações com os participantes do projeto pelas redes sociais.

Além do mundo digital, o EducAIR trará diversas atividades práticas e lúdicas, em que os alunos saem da sala de aula para realizarem gincanas, jogos, experimentos e demonstração de conceitos e usam os dados coletados por sensores móveis e a tecnologia instalados na sua escola para medir a sua própria exposição a poluição por partículas, ou seja, dados para analisarem e ideias para transformarem o conhecimento em ações para se protegerem. Existe um leque de ações educacionais que poderão ocorrer após os workshops, como usar os dados e o que foi aprendido para atividades em feiras de ciências, engajamento da comunidade ou campanhas de conscientização ambiental.

“Veja como isso é incrível, estamos levando para os alunos conhecimento e tecnologias das ciências da natureza, despertando a paixão deles por isso. Tudo com o envolvimento e acompanhamento de nossos cientistas de qualidade do ar, que estarão lado a lado com os alunos para discutir suas descobertas, responder perguntas e ajudá-los a pensar mais sobre a qualidade do ar e a conservação da Amazônia. Empoderar jovens alunos por meio da ciência significa mais do que apenas aprender sobre aquela temática, trata-se de transformar esse conhecimento em impactos positivos e duradouros para a Amazônia e seu povo e, consequentemente, para todo o planeta.”, comentou o Dr. Igor Ribeiro, um dos coordenadores do projeto.

O projeto EducAIR vai unir teoria e prática, através da educação ambiental e do monitoramento da qualidade do ar feito pelos próprios alunos, ou seja, eles vão aprender “colocando a mão na massa”. Com a plataforma SELVA e os sensores de monitoramento da qualidade do ar nas escolas, os nossos alunos e toda a comunidade poderão saber em tempo real a qualidade do ar que estão respirando, onde estão ocorrendo as queimadas, e planejar ações para melhorar a qualidade do ar e, consequentemente, o bem-estar de todos.

O EducAIR espera atingir de 5 a 8 escolas públicas entre 2022 e 2023, aproximadamente 500 jovens cientistas, visando conscientizar as crianças quanto aos efeitos da poluição do ar e da importância de se precaverem em períodos de queimadas da floresta Amazônica. Por fim, a expectativa é de que novos parceiros se juntem a esta iniciativa para que outros municípios do Amazonas também participem desta ação.

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