Este conteúdo sobre a COVID-19 em Manaus e em todo o estado do Amazonas foi produzido em parceria com a Dra. Natacha Aleixo, professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
A pandemia de covid-19 teve capítulos desastrosos no estado do Amazonas, causando comoção e mobilização nacional. Conheça como se deu a disseminação da doença na região.
A capital Manaus, considerada o epicentro da epidemia de covid-19 no estado do Amazonas, apresentou o primeiro caso de covid-19 no dia 13 de março de 2020, e a transmissão comunitária da doença foi decretada no dia 28 de março do mesmo ano.
Nos municípios da região metropolitana, como Manacapuru, Iranduba, Itacoatiara, Novo Airão e Presidente Figueiredo, houve intenso deslocamento da população para Manaus e baixos isolamento e distanciamento social da população, ocorrendo um elevado aumento dos casos ao longo do tempo.
Como Manaus comanda a rede urbana do estado, com intenso fluxo de pessoas e mercadorias que circulam por aeroportos, rodovias e rios, a doença se expandiu para municípios importantes do estado, como Parintins, Tabatinga e Tefé.
Dinâmicas de mobilidade e a propagação da doença
A navegação pelos rios é a principal e muitas vezes a única forma de transporte para a população do Amazonas. As viagens pelos rios até Manaus podem durar dias ou até semanas. As embarcações tradicionais com grande densidade de pessoas e lanchas climatizadas artificialmente e com ventilação natural restrita favoreceram a transmissão do vírus.
Um estudo coordenado pela pesquisadora Natacha Aleixo, da Universidade Federal do Amazonas, mostrou que o número total de viagens de barcos de linha partindo de Manaus foi o fator que melhor explicou os padrões de disseminação de covid-19 nos municípios do interior. O trabalho mostrou que, quanto menor o número de viagens partindo de Manaus para determinado município, maior o tempo decorrido para a doença alcançá-lo.
A progressão da pandemia em várias cidades do interior se relacionou a indivíduos que vieram de Manaus e posteriormente difundiram o vírus por contágio entre as cidades próximas.
A dependência dos serviços de saúde de Manaus
No estado do Amazonas, 90,3% dos municípios possuem dependência direta de serviços de alta complexidade existentes em Manaus, e 47,8% dos municípios possuem também dependência dos serviços de baixa e média complexidade. As grandes distâncias a ser percorridas até a capital podem durar dias ou semanas pelos rios.
Juntos, esses fatores representaram tanto a falta de assistência à saúde necessária para as pessoas que adoeceram no interior quanto a sobrecarga dos serviços de saúde da capital. O alto número de casos no interior ocorreu com defasagem de 15 a 20 dias de Manaus. O agravamento dos casos e os períodos extensos da utilização dos leitos frequentemente demandados pelas internações por covid-19 contribuíram para essa sobrecarga.
A partir de março de 2021, houve o avanço da vacinação no estado, e o número de casos novos confirmados e óbitos vem diminuindo. Porém, com a flexibilização das medidas restritivas de distanciamento social e a circulação da variante delta, já confirmada em Manaus, bem como a falta de monitoramento específico para interromper a cadeia de transmissão dessa nova variante, tem-se um aumento potencial do risco de agravamento do processo saúde-doença-atenção no Amazonas.
Os acontecimentos recentes trazem à luz o impacto que as doenças contagiosas podem ter no sistema de saúde da região. Revelam ainda a importância de estudos que busquem entender a situação e a necessidade de melhorias em toda a sociedade, para evitar episódios semelhantes aos ocorridos durante esta pandemia.
Referência
Aleixo, N., Neto, J.A., Pereira, H.S., Barbosa, D.E., & Lorenzi, B.C. (2020). Pelos caminhos das águas: a mobilidade e evolução da COVID-19 no estado do Amazonas. Confins.