Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Todos querem decidir pela Amazônia. Mesmo entre nós, que deveríamos dialogar, vez por outra construímos ou caímos em armadilhas, desavisados sobre quem ganha quando nos digladiamos. Deveríamos tomar mais chá de camomila e menos café na hora de conversar sobre a floresta. Precisamos de diálogos ao invés de destruição. Há tantos biomas já destruídos no Brasil que deveríamos tirar alguma lição disto. Há tanto rastro de mortes de povos originários, que deveríamos parar de agir como invasores.
Entretanto, há uma tentativa contumaz de objetificação do outro, onde transformamos os moradores da região em versões inferiores de nós mesmos. Esta agressão é recorrente em todas as discussões que temos na Amazônia: pode ser um debate de altíssimo nível nacional ou representantes da região em Brasília ou mesmo representantes do governo federal em debates na região. Há sempre um ar de superioridade nas conversas. Há pouquíssimo diálogo federativo. Enquanto não nos pacificarmos entre nós, será difícil colocar a floresta e a natureza como núcleo da Amazônia. Ela vem sendo destruída, pouco a pouco, pouco a pouco e isso precisa parar.
O virtual retrocesso no marco ambiental é ao mesmo tempo um clamor de quem mora por aqui, potencializado pelo brilho ilusório do grande capital. O encontro da modernidade com a tradição é difícil e tem faltado cientistas nacionais que construam soluções vinculadas com as tradições e as fortalezas do meio ambiente. Inexistem soluções para as dificuldades e falta perspectiva de quem está no interior, por isso as ilusões das minerações sustentáveis, que são miragens. As assimetrias de desenvolvimento entre os centros urbanos da Amazônia e os centros urbanos do Brasil desenvolvido serão sanadas? Em algum momento será feito um plano para conectar, mesmo que minimamente, o interior profundo com as capitais?
Enquanto o diálogo não prevalecer para consolidar um equilíbrio entre modernidade e tradições, seguiremos a ver debates lamentáveis, onde a destruição tenta atropelar a diversidade cultural, ignorando o potencial do intercâmbio de saberes entre o tradicional e o moderno. Os multiculturalismos deveriam ser celebrados, mas é muito difícil o reconhecimento mútuo em um ambiente de cortes para o tiktok, onde prevalece a ideia do cancelamento e da brutalidade. Hoje vivenciamos um conjunto amplo de ilusões de alteridade, onde todos somos diferentes, mas se acham superiores, fazendo de conta que somos iguais.
A superação desta esquisitice e o verdadeiro respeito aos povos da Amazônia é que poderá construir soluções que interessem ao país. Fora disso, seguiremos com a mania de teatralizar e atuar na direção de sermos uma eterna colônia dos centros de poder globais. Enquanto a Amazônia não protagonizar seu futuro, a partir de suas vocações, estaremos atraindo empresas para nos explorarem. Até quando faremos este teatro do absurdo?