Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Em conjunto com o Prof. Dr. André Ricardo Costa, elaboramos um indicador que mensurou quanto houve de sobrecusto para o transporte de contêineres durante as secas de 2023 e 2024 no transporte de contêineres para Manaus. A análise macroeconômica é fundamental para a compreensão das oportunidades e desafios regionais. Aprofundar o entendimento da Amazônia como ela é nos permitirá enfrentar os caminhos da sustentabilidade, em seu tripé econômico, social e ambiental.
Em 2023 o sobrecusto foi de R$ 1,4 bilhões, enquanto em 2024 o sobrecusto foi de R$ 1,5 bilhões. O dólar mais forte que o real trouxe um grande impacto para os custos. Os grandes armadores internacionais começaram a cobrar a taxa da seca mais cedo em 2024 do que em 2023, agravando os custos, apenas pelo câmbio, em mais de R$ 140 milhões. Em 2024 a interrupção da hidrovia foi mais longa. Sem estes dois fatores, os custos teriam sido contidos e até reduzidos.
O ano de 2023 foi surpreendente para muitos em relação à seca da região. Foi um recorde histórico. Entretanto, 2024 todos estavam muito mais preparados, o que levou também a uma maior formação de estoques pelas indústrias, o que fez um período muito mais próspero em termos de produção. Em 2024 o Polo Industrial de Manaus (PIM) teve um novo recorde de faturamento em reais, atingindo R$ 204,39 bilhões, crescendo 16,24% em relação ao ano anterior. Com o valor em dólar como referência, foi US$ 35.27 bilhões, superando 2010 e se posicionando como o quinto melhor ano da história do PIM, que teve uma sequência exuberante entre 2011 e 2014.
A superação destes sobrecustos é fundamental para o desenvolvimento mais amplo da Amazônia. Precisamos dotar a região de infraestrutura sustentável, competitiva e perene. Não há como seguir a fazer dragagens como o caminho de solução, pois é quase como enxugar gelo. Draga-se e o sedimento volta. Em 2023 foram alocados cerca de R$ 100 milhões em dragagem e em 2024 outros R$ 80 milhões. Mesmo assim o trânsito de navios de contêineres foi interrompido. Não podemos seguir com esta solução – é necessário o estudo de alternativas.
As assimetrias regionais seguem a aumentar, com um crescente investimento na infraestrutura brasileira e um nada ou quase nada na Amazônia. Pior que isso, os tributos da região são maiores que no restante do país. O Amazonas paga cerca de 18% de seu PIB em impostos e contribuições, enquanto a média nacional é de 15%. O porto de Manaus já tinha relevância 100 anos antes do Porto de Santos. Já passou da hora de planejar e investir com assertividade na Amazônia, para que não sigamos a destruí-la, ora vagarosamente, ora rapidamente. A retirada de impostos e de madeira sem investimentos é um desperdício e uma prática colonial que precisa ser transcendida.