Desmatamento na Amazônia: o que há de novo?

Em janeiro de 2022 foram identificados 430 quilômetros quadrados de área desmatada segundo dados do Deter/Inpe. Entenda onde esse desmatamento está ocorrendo e suas implicações.

O ano começou com números preocupantes de desmatamento na Amazônia brasileira. Em janeiro de 2022 foram identificados 430 quilômetros quadrados de área desmatada segundo dados do Deter/Inpe. Além de ser o maior registro para o mês de janeiro em toda a série disponível do Deter/Inpe, também é o único registro de desmatamento mensal acima de 400 quilômetros quadrados para o primeiro trimestre do ano, considerando a mesma série.

O desmatamento vem crescendo nos últimos anos, após um período de dez anos de estabilidade, atingindo 13.235 quilômetros quadrados em 2021, segundo dados do Prodes/Inpe. Mas o que tem sido observado é de fato uma mudança no processo do desmatamento ou apenas uma intensificação do que já vinha sendo observado?

Onde o desmatamento acontece

A maior parte do desmatamento na Amazônia Brasileira ocorreu na região conhecida como “arco do desmatamento”. Essa área se estende do sudeste do Maranhão ao sudeste do Acre, passando pelo norte do Tocantins, sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia e o sul do Amazonas.

Ao longo dos anos, além da intensificação nessas regiões, o desmatamento foi também se estendendo gradualmente para novas áreas, normalmente adjacentes à região do arco do desmatamento, especialmente para o oeste do Pará.

Nos últimos anos, porém, foi observado um avanço significativo do desmatamento para áreas intactas de floresta, principalmente para o Sul do Amazonas. Uma análise recente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) mostrou que o Amazonas foi o segundo estado com maior área desmatada em 2021, que vem vivenciando um rápido aumento na eliminação da floresta. A região tem sido apontada pelos especialistas com a nova fronteira do desmatamento na Amazônia Brasileira.

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Impactos e desafios

No entanto, o avanço dos limites das áreas desmatadas sobre florestas, conhecidas como fronteiras do desmatamento, traz várias consequências. Além de impactos ambientais, é frequentemente acompanhada por conflitos entre os diferentes atores que vivem na floresta e nela desempenham suas atividades produtivas. São diferentes visões de mundo de cada um dos grupos, com concepções de vida e interesses distintos.

Quando esse avanço se dá por desmatamento ilegal, esses conflitos podem ser mais problemáticos. Portanto, atingir a meta brasileira de desmatamento ilegal zero até 2028, como anunciado pelo governo brasileiro em Glasgow na COP26 é importante por diferentes aspectos.

Do ponto de vista ambiental é imperativo para a saúde da própria floresta e sua biodiversidade, para enfrentamento às mudanças climáticas a partir da redução de emissões de CO2 por desmatamento e para a manutenção do regime de chuvas do centro sul do país.

Do lado social é essencial para diminuir o risco de conflitos entre diferentes grupos, protegendo a população de violências como exploração do trabalho infantil, pobreza extrema e disputas de terras.

No campo econômico zerar o desmatamento ilegal também pode trazer grandes benefícios. A umidade trazida da Amazônia para o centro-sul do Brasil tem um papel fundamental no regime de chuvas do país, favorecendo a agricultura, com o equilíbrio no regime de chuvas e disponibilidade hídrica para irrigação. Essa mesma umidade favorece a geração de energia nas hidrelétricas e ajuda a garantir o abastecimento de água para consumo humano em centros urbanos.

Além disso, cumprir as suas metas colocadas para o Acordo de Paris, especialmente com relação à conservação da Amazônia, é importante para a imagem do país, facilitando a comercialização de nossos produtos.

A floresta em pé, por sua vez pode ser terra fértil para o desenvolvimento de bioeconomia e para negociações de créditos de carbono, trazendo oportunidades de crescimento para a região.

O ano começou com más notícias para a Amazônia. Após um 2021 com aumento expressivo no desmatamento, espera-se respostas do Brasil, que requerem planejamento estratégico, olhando para os dados e análises sobre o processo de eliminação das florestas, valorizando as instituições competentes, investindo em fiscalização. Alcançar o desmatamento ilegal zero em 2028 é importante e requer ações de curto e médio prazo, de fiscalização e aplicação das leis aliadas à construção de alternativas econômicas que sustentem uma nova estrutura baseada na valorização da floresta.

Disclaimer

Essas análises foram embasadas no Deter, o sistema de monitoramento e alerta de desmatamento e outras alterações da cobertura florestal na Amazônia, desenvolvido pelo Inpe para dar suporte à fiscalização, através do repasse diário dos dados mapeados para o Ibama e outros órgãos competentes. Esse sistema monitora vegetação com fisionomia florestal dentro da Amazônia Legal Brasileira, excluindo áreas previamente desmatadas. Portanto, não são contabilizadas as áreas que passaram por desmatamento no passado, estavam em processo de regeneração florestal e foram novamente desmatadas.

A identificação de alterações da cobertura florestal é feita por interpretação visual de especialistas, com área mínima próxima a 3 hectares. Para o público geral são disponibilizadas as áreas superiores a 6.25 hectares através do site: http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/. A metodologia e as estatísticas de validação do Deter publicadas em artigo científico está disponível em:
https://doi.org/10.1109/JSTARS.2015.2437075.

Embora o Inpe enfatize que a finalidade do Deter seja a expedição de alertas para suportar a fiscalização e que os números oficiais do desmatamento na Amazônia Legal Brasileira sejam fornecidos anualmente pelo Sistema Prodes, a divulgação do Deter tem permitido que a sociedade acompanhe mais de perto a dinâmica do desmatamento na região.

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