Este conteúdo sobre os incêndios na Amazônia foi construído em parceria com a Dra. Erika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Oxford.
Nem todo foco de calor na Amazônia é um problema em si. O fogo é frequentemente utilizado na agricultura e na limpeza da pastagem, por exemplo. Porém, quando atinge a floresta torna-se preocupante. Um incêndio florestal na Amazônia causa a morte de cerca de metade das árvores da região atingida, além de várias espécies animais. Essa mortalidade é diluída ao longo de até cinco anos após o incêndio, o que significa que a região afetada continua sentindo seus efeitos durante esse período. Essas perdas podem ser ainda mais intensas nas áreas que pegaram fogo repetidas vezes.
Além do impacto na biodiversidade, a mortalidade da vegetação causada pelos incêndios florestais se traduz em emissões expressivas de dióxido de carbono (CO2). Os incêndios também fragmentam a floresta, aumentando sua exposição à radiação solar e aos ventos, fragilizando-a e deixando-a mais suscetível a novos incêndios.
Recuperação das áreas atingidas por incêndios florestais
A recuperação da área atingida é lenta. Estudos mostram que a floresta pode demorar 30 anos para recuperar cerca de 80% das árvores após um incêndio. Além disso, as mudanças das características do ambiente, resultantes dos incêndios, aliadas às diferenças na capacidade de regeneração entre as espécies, fazem com que essa recuperação seja acompanhada de grandes alterações na estrutura e na biodiversidade da floresta.
O que causa o fogo na Amazônia
Embora os incêndios florestais sejam influenciados por fatores ambientais como as secas, na Amazônia eles não acontecem sem que haja uma fonte de ignição humana. Podem ocorrer por causa de escapes de fogo de manejos de áreas agrícolas e de pastagens, mas principalmente de queimadas para limpeza de áreas recém-desmatadas, que saem do controle e se espalham pela floresta em pé.
Os incêndios florestais em números
Os incêndios florestais na Amazônia nos últimos anos têm sido da mesma ordem de grandeza do desmatamento. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, por exemplo, quando o desmatamento na região preocupou os especialistas, o total desmatado foi de 10.851 quilômetros quadrados, de acordo com dados oficiais do Prodes. No mesmo período o Deter identificou 8.116 quilômetros quadrados de cicatrizes de queimadas na floresta. De agosto de 2015 a julho de 2020, quando o monitoramento das cicatrizes de queimadas passou a ser realizado pelo Deter, foram identificados 66.396 quilômetros quadrados de cicatrizes de incêndio na região, enquanto o Prodes registrou 47.462 quilômetros quadrados de desmatamento no mesmo período. As elevadas taxas de incêndio na Amazônia chamam a atenção para a necessidade de estratégias específicas para o controle dos incêndios florestais, que ameaçam a região e têm impactos distintos do desmatamento.
É importante lembrar que os sistemas de monitoramento Prodes e Deter têm as mesmas áreas de atuação e monitoram exclusivamente as de floresta na Amazônia Legal brasileira que não tenham passado por desmatamento nos anos anteriores. Isso significa que esses números são referentes apenas aos problemáticos incêndios florestais, desconsiderando qualquer fogo em áreas que já tenham sido desmatadas.
Focos de calor na Amazônia
Embora os incêndios florestais sejam a grande preocupação da Amazônia, os focos de calor também merecem atenção. Isso porque, além de comprometer a qualidade do ar e impactar o clima regional, o fogo nos arredores da floresta pode fragilizar suas bordas, tornando-a mais vulnerável. Pode ainda adentrá-la, causando os problemáticos incêndios florestais.