Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Thomas Hobbes publicou em 1651 o livro Leviatã, em referência ao monstro bíblico, tratando da estrutura da sociedade organizada. Em 2019, Daron Acemoglu e James Robinson, lançaram o “Corredor Estreito”, onde colocam o tal Leviatã em um corredor, para que ele consiga executar o papel do Estado, com burocratas e funcionários “presentes, com meios e motivações para cumprir a sua missão.” O nosso leviatã brasileiro possui cada vez menos meios e mão de obra para fazer seu papel, em especial na Amazônia.
É como se ao invés de colocar o Estado em um corredor estreito, como prescrito por Acemoglu e Robinson, o nosso leviatã tenha optado por ficar cada vez mais “enxuto” e “mínimo” e assim ele simplesmente não consegue mais fazer o seu papel. Desta forma, a Amazônia encontra com facilidade seus animais, em especial o homem egoísta, tocando fogo na floresta e devastando barrancos atrás de recursos para si, como previra Hobbes.
Nosso “Leviatã” está ensandecido porque ele tem optado por não fazer uso responsável do maior potencial de riqueza que o país possui, deixando sua exploração para quem chegar primeiro. Uma parte do Brasil segue numa sociedade agrária para exportação, enquanto outra segue excluída, sem entender o jogo do poder financeiro ou tecnológico. Sem prestar a atenção ao imenso país, temos deixado a Amazônia largada, colocando o nome de hidrovias onde só há rios e expectativas de desenvolvimento sem fazer investimentos. Parece e é insano. É o que temos feito. Queremos benefícios sem alocar custos. Há um Plano Nacional de Logística e Transportes não inclusivo.
Como conciliar um Estado “mínimo” com investimentos do estado e austeridade. São ações inconciliáveis. Nosso Leviatã não percebe que o nosso interesse deveria sobrepor-se ao interesse estrangeiro e ele segue focado na exportação de produtos da natureza, com mínimo valor agregado tecnológico, como fazíamos entre 1500 e 1929. Seguimos, em 2023, repetindo os modelos mentais do passado. Há uma enorme oportunidade tecnológica e verde, que segue sendo desperdiçada. A última novidade é chamar o “agro” de “bioeconomia”, como se fossem sinônimos.
Está em curso uma reconstrução da agenda da indústria nacional, por meio do CNDI – Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, quem sabe se das ações voltadas para a infraestrutura, teremos uma agenda para a construção de uma infraestrutura inexistente na Amazônia. No Amazonas, por exemplo, há uma pequena parte da indústria nacional, que recebe incentivos fiscais faz anos – a Zona Franca de Manaus. Sempre houve a expectativa da correção das deficiências na infraestrutura regional. Até hoje, pouco ou nada do imposto extraído da região volta para estas correções.
Seguimos sugando da Amazônia, seu ouro, seu imposto e suas riquezas. A construção da riqueza contemporânea virá das capacidades industriais e tecnológicas. Não há – como não houve no passado, desde a revolução industrial – espaço para a construção de riquezas verdadeiras a partir da agricultura ou do extrativismo. Precisamos sair desta agenda e a oportunidade que está posta agora, num momento de guerras e incertezas, é a certeza de que temos uma Amazônia de oportunidades, desde que saibamos como usá-las e comecemos a fazê-lo com mais responsabilidade do que foi feito nas demais regiões do Brasil.