Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
A seca recorde na Amazônia foi devastadora em muitos aspectos, podendo despertar oportunidades. Primeiro, exemplos do estrago: estudo preliminar constatou mais de R$ 1 bilhão como gastos excessivos das empresas para transitar seus contêineres que não passaram em decorrência das restrições de calado na Foz do Madeira e do Tabocal, no Rio Amazonas, que alguns chamam de hidrovia, mesmo com as obras emergenciais, que estão sendo ajudadas pelas chuvas.
Com dados do ComexStat, foi possível constatar que a importação pelo modal aquaviário do Amazonas reduziu seu volume, entre setembro e outubro de 2023 em cerca de 83%, quando se exclui os produtos associados à grãos, hidrocarbonetos e outros desvinculados da cadeia de insumos industriais para a Zona Franca de Manaus. É uma queda substancial, que será traduzida em redução de produção no Polo Industrial ou, pelo menos, um retardo nesta geração de riquezas.
É esperado que a chuva recomponha o trânsito de navios em dezembro, mas será que poderemos, como sociedade, construir uma alternativa para o rio se transformar em hidrovia, com garantia de calado? Afinal, há um território enorme na Amazônia e uma ausência histórica de realizações amplas de planos. A presença do Governo Federal dificilmente é percebida como valiosa pelos moradores, além das ações voltadas para os aspectos mais sociais de presença do Estado. Faltam medidas que dotem a região de condições indutoras para mais atividades sustentáveis.
Surge agora uma nova versão do Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA): 2024-2027. Finalmente, o plano começa a apresentar elementos de redução das desigualdades, com uma estrutura contemplando 276 projetos na Amazônia, dentre os quais, serão 45 no Amazonas, incluindo a recuperação da BR-319, BR-307, ZF-7, AM-010, Mobilidade Urbana em Manaus, Entreposto Pesqueiro, Aeródromos e diversos projetos que realmente possuem o potencial de transformação. Será que a seca trará oportunidades?
O total de projetos para o Amazonas supera R$ 4,398 bilhões. Assim, finalmente surge um Plano de ações mínimas para a Amazônia e para o Amazonas. São valores substanciais para quem não tinha nada ou quase nada e quando mais de R$ 1 bilhão foi desembolsado por empresas para enfrentar a seca e a falta de trânsito de navios. O valor parece menor quando colocados num panorama secular e a falta de infraestrutura, mas, mesmo com todas estas ressalvas, é fantástico ingressarmos no mapa de investimentos nacionais.
Este plano tem o potencial de ser um divisor entre o descaso e a integração da Amazônia ao Brasil. Se os projetos forem integralmente executados, poderemos ter uma transformação profunda na região. Há diversas oportunidades de melhoria, desde que sejam inserindo mais projetos. Por exemplo, como usar o Bioma Amazônico de maneira mais inteligente, com uso de compostos bioativos, extraídos da floresta, como diversas pesquisas de universidades e algumas startups já começam a demonstrar o potencial.
Portanto, a maior oportunidade de alterações, para melhorar o projeto, será ampliar recursos para ciência e tecnologia, pois com recursos relativamente pequenos, frente ao todo do projeto, poderão ser transformadores do cenário, induzindo o que mais interessa ao país e ao planeta, que é usar a biodiversidade com responsabilidade, por exemplo, transformando ao menos uma parcela das mais de 1.450 plantas medicinais que temos em bioativos e, consequentemente, em mais saúde para o mundo.