Amazônia: entre o potencial econômico e a destruição gradual

Acompanhe importantes debates sobre a economia da Amazônia trazidos pelo Dr. Augusto Rocha.

Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas

Há uma Amazônia da floresta, da biodiversidade e do potencial econômico. Para ela existir, é necessário o Estado, Pesquisa Básica, Pesquisa Aplicada, Desenvolvimento Científico & Tecnológico. Sem isso, essa Amazônia próspera não existirá. Estamos nesta direção em nosso país? Não. Queremos esta direção de desenvolvimento? Estamos longe de considerar um Estado empreendedor como algo valioso, mesmo que a Mariana Mazzucato tenha participado de alguma forma da elaboração das Missões na Nova Política Industrial.

Há outra Amazônia que destrói, queima, planta, cria gado, fora do que são as regras de convívio harmônico com a floresta, onde não se junta com as leis básicas da governança e sustentabilidade. Esta Amazônia prospera pela informalidade ou ilegalidade. Ela sempre esteve por aqui e parece não querer sumir. Mesmo que saibamos que ela precise parar, a floresta segue queimando para dar lugar ao pasto, a grilagem ou às plantações.

A Amazônia dos sonhos é bem distante da Amazônia real. Mesmo onde se faz “o que se deve” e se navega dentro das regras, com agricultura e manejo bem estruturados, com cacau selvagem ou demais ações empreendedoras verdadeiras, que precisam de gerações para saírem da subsistência para as potências econômicas, o que se verifica é que as escalas são mínimas e as chances de mudarem a realidade de pobreza é bem remota.

A Amazônia do Polo Industrial de Manaus é visivelmente um projeto de sucesso, com empresas estrangeiras em sua maior parte, baixo impacto ambiental, expressiva contribuição tributária (18% do PIB do Amazonas versus 15% na média nacional), mas com uma quantidade significativa de brasileiros contrários ao seu modelo. Ninguém delibera sobre os benefícios ou métricas. Frequentemente se é contra pelos motivos arcaicos, desconectados de dados da realidade. Parece muito mais com imperialismo interno ou falta de visão federativa.

A região segue no imaginário das áreas remotas, das oportunidades inexploradas, dos potenciais adormecidos. Enquanto isso, vamos sem planos, sem ideias e sem ideais, deixando a exploração acontecer. Os projetos que ao acaso ou pelo esforço planejado dão certo são tão poucos que nem temos mais tempo de deliberar acertos e erros, quem ganha e quem perde, apenas nos deixamos capturar pela emoção do próximo clique. Quem fará a governança deste potencial?

Precisamos encontrar um caminho além do entregar. O antigo mote “integrar para não entregar” ainda não foi superado. Não estamos integrados, mas estamos entregues ao acaso Amazônico. Transpor esta realidade será possível quando acreditarmos verdadeiramente no potencial da região. Por ora, acreditamos na exploração e na destruição. A saída é conhecida, mas parece dar muito trabalho e pouca audiência, afinal é melhor o ganho fácil e rápido da exploração destrutiva, pois é ele que tem predominado.

O ganho advindo da ciência, pesquisa, desenvolvimento e inovação é lento e sólido, mas muito trabalhoso. Fora dele, não há chance da bioeconomia ou da biotecnologia surgirem e muito menos de proteção ao meio ambiente. Teremos que tomar logo estas decisões, o mundo está quente e os rios secando. O tempo de decisão está acabando e precisamos passar logo para as ações – cada dia que passa fica mais tarde, mais difícil, mais caro e menos rentável.

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