Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
A Amazônia precisa de tudo. É uma enorme área natural para ser preservada, compreendida e aproveitada. Para isso, teremos que agir. Não será só com infraestrutura, mas com muita operação e ação pública e privada, científica e tecnológica, continuadamente, ao longo de muitos anos. Apenas com isso é que poderemos fazer uma modificação para melhoria da realidade. Fora disso, será um caminho lento e continuado de destruição.
Necessitamos de rodovias, como a BR-319 e outras? Certamente. Entretanto, precisaremos de veículos circulando nelas, com segurança e a certeza de que elas não se tornarão novos eixos de desmatamento. A indicação de sua recuperação é positiva. Será fundamental para o futuro, afinal se ela não existe, não pode ser considerada para o presente. Quando voltar a existir asfaltada, precisará ser um eixo de proteção e não de desmatamento, com um Estado ausente, como está hoje.
Para a navegação funcionar, precisamos de hidrovias e não apenas dos rios. Da forma como vivemos, temos apenas rios e não hidrovias. Foi necessário que uma empresa privada fizesse o que o governo não fez e assim existe a possibilidade de termos um rio que permitirá a navegação mesmo com a seca. Sem navegação de porte maior, é pouco competitivo realizar operações de maior porte em Manaus. O grupo Chibatão entregou ao DNIT em 16/04/2024 um estudo que permitirá uma obra mais assertiva na “hidrovia” do Amazonas, em sua região mais crítica, na Foz do Rio Madeira e Tabocal – custou cerca de R$ 20 milhões.
Os voos precisam reduzir seus custos, pois temos aeroportos nos principais centros, apesar de faltarem aeroportos de interior. A infraestrutura é o primeiro passo, mas sem os transportadores com custos competitivos, não teremos atividades econômicas competitivas. Os custos excessivos que são cobrados de quem mora e trabalha na Amazônia precisa encontrar algum caminho de equilíbrio, pois isso seguirá a travar o desenvolvimento. Sem voos frequentes, como já discutido neste espaço, fica impossível fazer negócios ou turismo.
A interação dos três principais modais no Amazonas é muito incipiente. Estamos distantes do potencial de uma ligação sistêmica, com rios, estradas e voos. Com isso, existem perdas de potenciais de todo o tipo. Enquanto tratarmos a Amazônia como um recurso futuro, desperdiçaremos seu presente e haverá uma riqueza queimada e uma biodiversidade destruída ou desperdiçada. Qualquer das alternativas é negativa.
A integração sistêmica da infraestrutura é o que permite a existência de áreas desenvolvidas. O IDH dos municípios do Amazonas é Baixo ou Muito Baixo. Apenas 14 possuem IDH médio e apenas Manaus possui IDH alto. Em comparação, o pior IDH da África, de Uganda, 0,544, é melhor do que 20 municípios do Amazonas. É uma comparação apropriada, pela trajetória histórica de abundância e de presença estrangeira. No entanto, a condição política e econômica é muito diferente – eu acredito que a grande carência que enfrentamos, na infraestrutura sistêmica, tem o potencial de provocar essa realidade, por sua falta, ou de mudá-la, quando for estabelecida.