Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Mesmo entre os países mais abastados do mundo, há uma percepção crescente que uma parcela grande da sociedade está “ficando para trás”, sem a capacidade de gerar riquezas mínimas para uma existência compatível com a média de suas sociedades.
Assim, há uma periferia do planeta que sobrevive em condições péssimas e outra grande parte que vive com poucas oportunidades e ganha aquém do que necessitaria para viver dignamente em seu ambiente comunitário. Há um crescente descompasso sobre o que é a economia real, a economia financeira e a capacidade dos países de comandarem suas estruturas de poder de geração de emprego, renda, consumo e estruturas políticas.
Há pouco olhar para as pessoas ou para o meio ambiente da Amazônia. De maneira geral não se analisa a região nem por suas partes, nem por suas sociedades, nem por sua economia. O que se olha é o impacto global e genérico: proteção ou destruição. Não fazer nada ou preservar. Há um ignorar em relação às sociedades e as cidades da região. É como se tivéssemos um vazio demográfico em 60% do território brasileiro.
É necessário que comecemos a perceber as pessoas que compõem o planeta Terra. Para além dos países, empresas transnacionais e blocos econômicos, o que temos são pessoas que habitam um planeta. Encontrar este caminho em comum é um desafio da cooperação, mas o tempo não parece encontrar convergência entre os países, talvez por um recorrente ignorar as pessoas das várias partes do mundo.
Há uma prática de impor pautas aos países menos desenvolvidos, às regiões mais pobres de maneira recorrente. As ações de “desenvolvimento” têm sido utopias e ações que iludem, mantendo as práticas de colonialismo, de manutenção ou criação de dependências de toda ordem. Os investimentos e as ações de redução dos impactos das crises climáticas estão muito distantes de se tornarem realidade. Os consensos e pautas globais parecem mais elementos de distração, pois as potências econômicas globais seguem realizando as pautas de geração de riqueza e de dependência, ignorando o interesse do todo ou impondo tecnologias duvidosas para o mundo.
Estamos essencialmente fora das cadeias de produção globais, chamadas de “Global Value Chains” (Cadeias Globais de Valor, termo popularizado por Gary Gereffi, da Duke University e adotado pelo Banco Mundial). Segundo Carlo Petrobelli e outros autores que têm discutido a competitividade da América Latina, este importante vetor de crescimento e produtividade permite que os países se especializem em diferentes etapas da produção. A Panamazônia poderia estruturar e integrar suas economias, aumentando a troca de bens, serviços e conhecimentos entre os países, construindo um vetor de inovação para todos. Mais do que da armadilha da renda média, precisamos sair da armadilha de ter apenas commodities. Este olhar poderia integrar as reflexões sobre a proteção da Amazônia durante a COP30.