Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
O Amazonas recolhe cerca de 18,2% de seu PIB para impostos. A média nacional é 15,5% e a média do Norte é 12,1%, conforme dados do IBGE. O que se faz com este imposto? Onde estão as correções das desigualdades regionais? Quais os sonhos para a Amazônia? Quais os Planos? O que desejam as comunidades amazônicas? O que percebo é de fato uma ausência de sonhos coletivos. O que vejo é um repetir de obras emergenciais que não trouxeram resultados, como no caso da dragagem do Rio Amazonas – ineficaz em 2023, repetida em 2024 e planejada para 2025.
Neste ano de 2024 tivemos a maior seca da história, mas não debatemos, como país ou sociedade integrada, em relação ao que aconteceu na região. Não há medidas para enfrentar sistemicamente o problema – há apenas ações para a emergência, mas ausência total para as causas ou os efeitos de longo prazo. Não aproveitamos as oportunidades, vamos apenas pulando de crise em crise. O que proponho, neste fechamento de ano de 2024: precisamos sair das conversas apenas sobre crises.
Mesmo considerando os superavitários dados de Valor Bruto da Produção (VBP), apresentados em estudo de Costa, Rocha e Machado (2024), que identificaram que a indústria é a vocação da economia amazonense, com 52% do VBP do Amazonas tendo origem na produção da indústria de transformação do Estado, quando a indústria de transformação representa apenas 32% do VBP nacional. Entretanto, isso não integra as histórias relatadas sobre a Amazônia ou o Amazonas. Temos apenas informações espalhadas, que normalmente não usam dados concretos.
As desigualdades regionais não reduzirão tão cedo, porque não há debate com a Amazônia nem este preceito Constitucional é seguido. As lideranças locais não são ouvidas. O máximo que conseguimos deliberar são debates sobre como combater as imensas crises produzidas pela seca na região e o que isso afetará das vendas da Black Friday ou do Natal. Nem sabemos, nem aprofundamos sobre o que causou. Será que foi o El Niño ou será que foi o aquecimento global? Há discussões acaloradas em artigos científicos no exterior, mas não há discussões em relações ao que fazer no ambiente público nacional, seja na imprensa ou governo.
Parece que apenas seguimos o prescrito por Ellen Lupton, em seu livro “O Design como Storytelling”, pois vemos uma profusão de histórias relatadas sobre como a Amazônia pode ser explorada ou sobre como não fazer nada. Há uma completa ausência de histórias, de prescrições, de ações de governança, desenvolvimento ou de redução das desigualdades. Não há nada além da superfície dos problemas.
Precisamos encontrar um caminho de construção de planos para a redução da desigualdade entre a Amazônia e o restante do país. As assimetrias identificadas, enumeradas e enfrentadas, com planos e ações, com política públicas integradas, respeitando os desejos das comunidades locais e o meio ambiente. Apenas não fazer nada não ajudará, não protegerá e não construirá um futuro próspero. Precisamos de uma riqueza real e não uma imaginação de riquezas pela destruição ou pela inação. A construção de um plano para a infraestrutura pode ser um primeiro passo nesta direção.