Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Há alguma riqueza desperdiçada na Amazônia? Certamente. Isso é uma dúvida que inexiste. A pergunta que precisa ser respondida é: até quando? Adicionalmente, cabe: qual a razão? Quais os motivos que levam aos moradores da região não removerem ou não lutarem pela superação dos problemas desta oportunidade desperdiçada? Qual a razão causadora do restante do Brasil não se interessar pela Amazônia? Uma reserva para o futuro? Uma desnecessidade em meio a tantas outras oportunidades desperdiçadas?
Há um severo problema no Brasil: as perguntas que jamais são feitas, enquanto desperdiçamos um tempo enorme discutindo o que não interessa. Isso precisa mudar. Interessa fazer a agricultura tradicional e extensiva na Amazônia como um todo? Certamente, não. Mas isso costuma ser recorrentemente realizado e discutido como uma possibilidade. Qual a razão dos movimentos mais prósperos não integrarem as pautas de debate?
O ritmo frenético das redes sociais e as manchetes fáceis sobre problemas complexos leva a uma consciência coletiva nacional e internacional muito turva sobre o que é a Amazônia e as suas potencialidades. O imaginário tende a ser muito diferente da realidade e as pessoas terminam se associando ao que parece mais fácil e rápido, tendo como consequência atender ao interesse de quem produz a notícia ou a reprodução da manutenção da situação atual.
Assim, aumentar a competitividade na Amazônia interessará para os que possuam motivações para transformar a realidade atual. Não interessará para os que tiram proveito do modelo como está. Assim, tudo que for possível ser feito para não transcender as atuais relações de poder, não será feito. O setor privado que prevalece na Amazônia é estrangeiro e os governos locais estão envolvidos com severos problemas sociais. A luta nos grupos de interesse fica neste difícil equilíbrio e quem sabe transitar entre os dois consegue prosperar de alguma maneira.
A limitação no escopo do debate atual sobre a Amazônia, reduz a discussão ao pequeno dilema preservar ou destruir. Faltam outras questões que transcendam, tais quais a necessária dinâmica de investimentos sustentáveis, o rompimento do isolamento, a criação de áreas de estudo e compreensão, a construção de espaços para experimentos audaciosos, a construção de espaços que respeitem às culturas tradicionais e a atração de pesquisadores do mundo inteiro para identificar oportunidades para a coletividade.
Enquanto o debate ficar empobrecido na dualidade preservar ou destruir, ficaremos com os resultados igualmente empobrecidos que temos colhido ao longo dos últimos anos, onde, vez por outra, alguns espoliadores levam vantagem, mas nunca com a construção sustentável para uma sociedade local mais próspera ou a alteração dos modelos de gestão destrutiva. Assim, seguimos em um desenvolvimento para poucos e em um isolamento eterno, guardando o recurso para as gerações futuras, como se já fôssemos ricos. Como afirmou Betrand Russel: “muitas das dificuldades que o mundo está passando são devidas ao fato de que os ignorantes são completamente seguros e os inteligentes estão cheios de dúvidas”.