Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Não se faz nada de relevante na Amazônia em relação à mobilidade das pessoas. Não se constroem infraestruturas novas. Quando se faz um projeto, a discussão segue na superficialidade. Ao invés de ser enfrentado o problema ambiental para a obra da BR-319, a opção é não fazer nada. Não se enfrentam as dúvidas e as oportunidades. Não pesquisamos a Amazônia como deveríamos.
Nos aeroportos, os voos seguem caros. Nos rios, se faz dragagem a “esmo”, sem compreensão dos impactos ambientais e econômicos. Não se faz a avaliação de efetividade. A Amazônia segue como um almoxarifado para o futuro que nunca chega. Quem se aventura a empreender na região vai ter que contar apenas consigo, salvo nas grandes capitais. Os interiores possuem o modo de vida e atividades econômicas do passado remoto.
É importante perceber que a atividade econômica depende de uma mobilidade urbana, de uma mobilidade intermunicipal e interestadual. A cada dia ficará mais difícil e mais caro fazer novas obras. Precisamos começar a encontrar as capacidades de investimento para além das falácias associadas ao “não gaste”. Sem investimento não há crescimento e não podemos seguir sem métodos de investimento em infraestrutura até para encontrar o nosso próprio território.
Há minérios que podem ter exploração danosa e desordenada. Todavia, há também minérios que podem ter uma exploração minimamente ou maximamente responsável. É uma obrigação encontrar estes equilíbrios. Afinal, as rotas de desenvolvimento, de comércio e de transformação são sempre possíveis, desde que queiramos fazer algo. Estamos hoje com uma série de amarras mentais que ancoram o país no século passado.
A mobilidade das pessoas e dos comércios é o que tem permitido às expansões e mudanças de dinâmicas econômicas ao longo do tempo, seja na rota do âmbar, das especiarias ou da seda. Ao longo dos séculos as mobilidades de pessoas e de produtos é que permitiram fronteiras de desenvolvimento e mudança. Sem estas mudanças de urbanização, tecnologia e política.
Temos muito o que mudar no país, mas está na tecnologia e na infraestrutura a maior oportunidade que nos recusamos a enfrentar. Temos atacado e combatido nossas capacidades próprias de construção e de inovação. Precisamos nos pacificar entre nós sobre as possibilidades transformadoras da infraestrutura. A política precisa se pacificar com a história para além da compreensão da importância do diálogo com as maiorias silenciosas.
A Amazônia precisa ter uma mobilidade do século XXI. Enquanto a infraestrutura for do século XV no interior profundo e do século XX nas capitais, não poderemos querer uma economia do século XXI. Precisamos mudar a realidade com um investimento, para podermos colher os benefícios das potências econômicas que são apenas faróis para um futuro que, da forma que está, nunca chega.