Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Ruchir Sharma, em seu livro sobre as “10 regras de uma nação de sucesso” (ainda sem tradução – “10 rules of successful nations”, publicado em 2020 pela Penguin Books), destaca que na política a “crise força a nação a mudar, as reformas levam a uma bonança, que por sua vez encoraja a arrogância, que leva a uma nova crise”. Por aqui, parece que somos estimulados o tempo todo a não confiar nas instituições, pois não conseguimos viver bonanças.
A crise da seca de 2023 na Amazônia, parecia assustadora. O que se esperava de reposicionamento de todos, não aconteceu. Não houve uma grande mudança sobre a forma de conduzir a infraestrutura na região. O projeto de dragagem que fracassou no último ano será repetido. Um dos armadores que transporta contêineres do exterior para Manaus que cobrou um sobrepreço de US$ 700.00 no ano passado, a partir de 28/08/2023, já anunciou que iniciará em 15/08/2024 uma cobrança de sobrepreço de US$ 5,900.00.
Anthony Giddens argumentou sobre o declínio na confiança nas instituições. Com os fatos que vemos acontecer, somados ao declínio das chuvas no último mês, em toda a região Amazônica, ao Norte, leva-nos a desconfiar cada vez mais de nossas instituições, sejam públicas ou privadas. Como construir confiança em meio a um cenário destes? É bem difícil. A impermanência em que vivemos, onde a crise termina prevalecendo nos discursos leva a um medo constante e a uma incerteza sobre o futuro.
Sharma também destaca que nações de sucesso investem na construção de infraestruturas e isso leva a um movimento maior nos negócios do país, colocando dinheiro no bolso dos consumidores. Ele declara que países emergentes precisam investir algo como 25% a 35% de seu PIB e se isso não for feito, só encontrará a estagnação. No Brasil, insistimos em um modelo de não investimento e esperamos resultados diferentes.
O Amazonas é o Estado brasileiro em que se paga o maior preço de frete por carga, chegando a US$ 197 por tonelada em fevereiro de 2024, com dados elaborados por Rocha, Thadani e Costa, a partir do Comex-Stat (em publicação no prelo). Este número é 36% superior ao custo de São Paulo. No modal aéreo a relação ainda é mais nefasta. Estes custos excessivos que se amontoam na operação logística da Amazônia sempre tem como ser agravado, com a ausência continuada de investimentos transformadores.
Não podemos esperar uma Amazônia com sucesso econômico se seguirmos sem investir em infraestrutura, ciência e tecnologia. A saída será apenas a manutenção dos modelos atuais de atividades econômicas e extração de riqueza daqueles que ousam morar por aqui. O ciclo virtuoso dos investimentos nunca chega na Amazônia, apesar de ter acontecido em outras regiões do país em diferentes momentos da história.