O difícil trabalho de regular o transporte na Amazônia

Acompanhe importantes debates sobre a economia da Amazônia trazidos pelo Dr. Augusto Rocha.

Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas

É muito difícil e necessária a regulagem da atividade econômica em áreas pouco desenvolvidas. Quanto maior o tamanho da economia e da competição, menos necessária se mostra a regulagem. Por outro lado, em áreas mais remotas a governança é algo fundamental, para que não existam excessos e desequilíbrios. Neste contexto surgem as ferramentas do investimento inicial, subsídio, subsídio cruzado e tantas ações possíveis para enfrentar os problemas complexos associados ao isolamento ou outras limitações.

A ausência de governos e de leis, leva a um comportamento desumano e predador, onde só se busca o lucro pelo lucro e o mais perverso da natureza humana é o que sobressairá. A história é farta de registros nesta direção – não existem colonizadores bonzinhos ou exploradores do novo que não estejam focados em ganhos expressivos, porque não haveria motivo para explorar se não fosse para o ganho em alguma dimensão.

Passagens aéreas dentro da Amazônia normalmente custam mais caro que passagens entre São Paulo e a Europa. Por que isso ainda é tolerado? Há empresas que culpam e punem clientes, ao invés de prover a infraestrutura apropriada. Aqui surge o papel da Agência Nacional da Aviação Civil, como regulador do serviço. Até quando ficaremos sem voos frequentes entre as capitais da Amazônia? Por qual razão estes voos que poderiam ser de 50 minutos ou uma hora se transformam em périplos de até 37h?

Quando escrevo este texto, a melhor alternativa entre Manaus e Porto Velho, para uma viagem de uma semana demora 33h, com 27h de espera em Brasília, custando R$ 5.185. Procurando um pouco mais, chega-se a um voo por R$ 4.441 e 9h30. Isso não pode seguir como está. Até quando seguiremos sem regulagem? O modelo desregulamentado está servido para quem? Para as populações e o livre mercado ou para enriquecer cartéis e oligopólios?

O livro “The New Leviathans: Thoughts After Liberalism”, do professor John Gray ajuda a entender este mundo dos anos 2020 e um paralelo com as reflexões dele podem ser interessantes para o entendimento do que vivemos. Temos uma liberdade de preço e de operação nas empresas aéreas nacionais, mas isso é saudável para a população? Por que razão as capitais desta região seguem sendo espoliadas? De fato, temos um liberalismo ou um totalitarismo do capital?

Depois que a Alitalia faliu, o governo italiano criou uma companhia aérea estatal chamada Ita. Sua sede é no Ministério da Economia. Um voo da Ita de Roma para São Paulo custa R$ 6.614 e leva 11h10. É um terço do tempo, para uma distância muito maior, se comparado com um dos voos acima. A situação que enfrentamos na Amazônia é inaceitável, tanto moral quanto economicamente. Até quando vamos tolerar isso? A propósito, para ir para a Itália, também podemos fazer uma escala na Turquia e pagar só R$ 3.524, voando por 19h30 – a empresa é 49% estatal. Tem lógica pagarmos tão caro? Por que ir para a Europa é tão mais barato em proporção? Como sociedade, precisamos olhar para a realidade nacional de 2024 e nosso Leviatã precisa pensar e agir.

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