Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Há um nó da logística a ser enfrentado. O Decreto Nº 12.600, de 28/08/2025 dispõe sobre a inclusão de empreendimentos públicos federais do setor hidroviário no Programa Nacional de Desestatização, incluindo as Hidrovias do Madeira, do Rio Tocantins e do Rio Tapajós. Ele não enfrenta o problema do Norte. O que faz é oportunizar um novo eixo de escoamento da soja e outras commodities.
Colocar pedágio e conceder a natureza é um caminho para demonstrar a ausência do Estado na Amazônia. A proteção da Amazônia pela ausência é o que move o país. A segunda forma de proteção é pela extração de recursos e a terceira forma é esta, pela concessão para atender ao interesse de outra região ou do capital de origem estrangeira.
Um exemplo da ausência é a BR-319 é uma estrada que conecta Porto Velo (RO) com Manaus (AM). A rodovia é alvo de um enorme debate sem fim, com discursos acalorados, onde a visão ambientalista cancela a visão desenvolvimentista e vice-versa. Este excesso de ruído tem destruído convergências, que seria o esperado para um Estado Moderno, realmente Liberal e realmente democrático.
No Decreto, estamos concedendo a natureza para a cobrança de pedágios e atender ao interesse de outra região e, em última análise, países estrangeiros para onde vai a nossa extração sem tributos. Alimentaremos as indústrias e animais de países industrializados, que fabricarão produtos e exportarão de volta para nós, numa perversa circularidade da globalização.
Já temos mais do que a área da Alemanha com plantações de soja. Precisamos começar a agregar mais valor ao que produzimos, industrializando a nossa economia. Atualmente importamos alumínio e combustível para o Amazonas, enquanto temos jazidas de petróleo não exploradas e exportamos bauxita do Pará. Esta estrutura econômica precisa ser revisada, pois seguimos na troca desigual dos anos 1500 para cá.
A sustentabilidade da Amazônia começará quando as obras de infraestrutura forem realizadas para atender aos interesses e demandas da região. Hoje seguimos a lidar com a Amazônia pela ausência de presença do Estado e de governança. O assunto muda apenas quando queremos extrair ou usar os seus recursos em alguma medida.