Este conteúdo sobre degradação florestal foi produzido pela colunista Dra. Janaína Guidolini, idealizadora da Accessible Science.
Em 2021, a degradação da Amazônia brasileira alcançou 238.878 km2. Isso equivale a 156 vezes a cidade de São Paulo. Apesar disso, muitas estimativas de CO2 antrópico (gás carbônico produzido por seres humanos) em florestas tropicais não consideram os processos de degradação.
A degradação florestal reduz os serviços ecossistêmicos (benefícios que a floresta nos oferece) como por exemplo: água, madeira, lenha, carvão mineral, etc. A redução desses benefícios acontece porque a relação entre as atividades humanas e os recursos naturais está desalinhada.
Na Amazônia brasileira, a degradação florestal associa-se principalmente à retirada de madeira, queimadas, ou uma combinação de ambos. O tipo, a frequência, o tempo e a severidade da degradação implicam mudanças na biomassa (quantidade total de matéria orgânica na floresta). Portanto, para medir as emissões de carbono derivadas da degradação florestal, é importante conhecermos as possíveis trajetórias dessa degradação.
Pensando nisso, a Dra. Talita Assis e colaboradores publicaram um estudo na reconhecida revista científica Environmental Research Letters. Eles analisaram as trajetórias temporais de degradação florestal de agosto de 2006 a julho de 2016 na Amazônia brasileira. Ademais, avaliaram o impacto da degradação no balanço regional de carbono.
No estudo foram identificadas três trajetórias de degradação na Amazônia brasileira:
Trajetória de corte raso: áreas com vegetação natural totalmente desmatadas e convertidas para usos antrópicos
Trajetória de múltiplos eventos de degradação: áreas regularmente degradadas, mas com desmatamento parcial
Trajetória de evento de degradação única: áreas que sofreram um único tipo de degradação
Os pesquisadores encontraram a trajetória de evento de degradação única em toda a Amazônia, espalhada em áreas remotas. Entretanto, essa trajetória está mais concentrada próxima às novas fronteiras do desmatamento e áreas previamente abertas.
Em áreas com altos níveis históricos de desmatamento, os pesquisadores observaram a trajetória de múltiplos eventos de degradação, principalmente nos Estados de Mato Grosso e Tocantins.
Por fim, a trajetória de corte raso aparece próxima às áreas desmatadas expandindo-se do Sul para a Amazônia Central.
Impacto das trajetórias de degradação nas emissões de CO2
Segundo os resultados da pesquisa, a degradação florestal contribuiu para o aumento das emissões brutas de CO2 em 27,1% no período de 1981 a 2016. A predominante trajetória de evento de degradação única destacou a importância de se considerar a absorção deCO2 em áreas de recuperação florestal no balanço de carbono na Amazônia brasileira.
Os pesquisadores observaram uma baixa ocorrência da trajetória de corte raso, o que significa que na maior parte dos casos a degradação florestal não culminou em desmatamento. Isso reforçou a importância de se considerar as emissões de CO2 da degradação florestal, já que se trata de um processo distinto do desmatamento.
Houve um aumento da contribuição da degradação florestal para as emissões líquidas de CO2 no final do período analisado (agosto de 2006 a julho de 2016). Esse aumento relacionou-se com a diminuição das taxas de desmatamento por corte raso, excluídas as taxas de degradação florestal.
Novas pesquisas podem avançar na compreensão das relações existentes entre a degradação florestal e os fatores biofísicos, climáticos e antrópicos.
Vale ressaltar que as estratégias que visam amenizar os efeitos das mudanças climáticas como a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD +), exigirão estimativas precisas de emissões de carbono após episódios de degradação florestal.
Referência
ASSIS, T. O. et al. CO2 emissions from forest degradation in Brazilian Amazon. Environmental Research Letters, v. 15, n. 10, 2020.