Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
Uri Levine, um dos criadores do Waze, lançou este ano o livro “Fall in love with the Problem, not the Solution” (algo como “Caia de amores pelo Problema, não pela Solução”). Este livro, voltado para empreendedores, pode ser uma bela fonte de inspiração para as questões da Amazônia. Temos focado ao longo dos anos em oportunidades falsas, métodos de solução que no longo prazo não funcionam ou não se sustentam. Temos esquecido algumas histórias de sucesso não às repetindo ou intensificando, como se não fosse sucesso. Ou seja, nem harmonizamos o entendimento do que é “sucesso”.
A atividade empreendedora é baseada no enfrentamento das falhas e o não reconhecimento destas é o que tem acontecido no Brasil em relação às difíceis questões do interior mais distante dos grandes centros, como é o caso da Amazônia. Ignorar as relações sistêmicas, onde existe grande interdependência de ações, buscando apenas benefícios rápidos tem sido a raiz dos problemas, pois a superficialidade tem levado a um enorme desperdício de recursos com a destruição recorrente das oportunidades mais valiosas.
Identificar os talentos necessários para grandes empreendimentos é o grande desafio de qualquer projeto que contenha desafios e regiões isoladas são, em si, um desafio. Acontece que os talentos de 2023, em um mundo de internet e abundância de capital para certas questões e completa ausência dele para outras, leva a uma busca de perfil diferente do que estávamos acostumados para as demais oportunidades aproveitadas no país, ao longo da sua história. O entrave é mental, na forma de perceber e enfrentar o mundo. Queremos repetir erros, como se fossem acertos ou ir a um passado completamente incompatível com o presente e futuro.
Temos negócios voltados para o extrativismo e isso não é o que se espera do futuro da região, uma vez que a estratégia contemporânea prevê exatamente o oposto, ou seja, este caminho é de alto risco, com baixo benefício. A oportunidade do presente é a mesma que se teve com os rebeldes do Vale do Silício, na indústria da Tecnologia da Informação: a identificação da fronteira da ciência voltada para a transformação da realidade. Entretanto, teremos que somar a isto uma dose de adoração não só pela tecnologia, mas também pela natureza.
Nesta interseção de empreendedorismo, talentos, ciência e respeito ao meio ambiente é que se insere a biotecnologia. Acontece que na região há tantas e tantas oportunidade que não nos damos conta do que é “ouro de tolo” e do que é “real”. Assim, como um vício, tentamos repetir os erros da mineração, agricultura ou pecuária, sem refletir sobre quanto o mundo mudou e o quanto este caminho não é mais valioso do que as alternativas mais prósperas.
Não há como perseguir um crescimento desenfreado com base na destruição de recursos naturais. Estamos com uma grande oportunidade e risco conjugados. Para fazer diferente, precisaremos de métodos alternativos ao que temos usado. A questão é que as leituras rápidas têm construído muitas ações por impulso. Precisamos sair da armadilha onde histórias de fracasso e de destruição sejam percebidas como sucesso. Esta é a maior dificuldade para romper os atrasos nacionais em relação à Amazônia.
Precisamos parar de perder tempo e prescrever soluções para a Amazônia: manter e ampliar a indústria de Manaus, interromper o desmatamento tolo, usar o potencial dentro do atual marco legal, que já permite a exploração sustentável da natureza, simplificando estes processos e somando infraestrutura. Junto com tudo isso, ampliar o uso da ciência voltada para o empreendedorismo. Fora destas ações de construção, teremos apenas o mesmo rastro de destruição já conhecido ou o extrativismo de pouco resultado econômico e de efeito social negativo.