Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
O consentimento para a exploração da Amazônia e o secular não investimento em suas pessoas tem sido tipicamente fundamentado no atendimento das necessidades de exploração de recursos, com a perspectiva colonial. Há uma agressão aos espaços geográficos atrás de uma riqueza potencial, elixires e frutos da biodiversidade ou de riquezas do subsolo, como petróleo ou minério.
Não há, nos debates públicos sobre a região, nada sobre as necessidades das pessoas. O enfoque é territorial, exploratório ou desbravador, como se esta área fosse desabitada. Somos pessoas que não existem para as discussões. O que há são recursos, impostos, benefícios e exploração. Como se a retirada de minérios nos trouxesse alguma riqueza. Como se a exploração construísse dignidade para todos.
A mudança de perspectiva sobre a Amazônia se dará a partir do momento em que as discussões forem centradas nas pessoas, nas cidades e nas suas necessidades. Hoje o que temos é uma construção de teses exploratórias da riqueza. Quando teremos um olhar centrado no humano, nas pessoas, nas nossas necessidades? Sejam necessidades econômicas, sociais ou ambientais? O desenvolvimento não se “leva”, tal qual educação não se “deposita”.
Como refletiu Noam Chomsky, sobre a “responsabilidade dos intelectuais”, precisamos insistir na construção de um debate mais próximo das verdades, pois temos pessoas na Amazônia. Muitas pessoas. As discussões são estereotipadas e agrupam-nas, como “ribeirinhos”, sem quantificar, sem singularizar e sem encontrar construções de transformação ou viabilização de cidadania.
Há hoje um único consentimento público: explorar, que pode também ser lido como extrair, retirar ou usar. No fundo é apenas extrair a riqueza da natureza, gerando alguns empregos e, eventualmente, algum imposto ou royalties. Este modelo de desenvolvimento da Amazônia não é pacificado nem debatido com as nossas pessoas.
Os saberes tradicionais, suas culturas e seus modos de vida são amplamente ignorados. É hora de substituir o consentimento tácito pela construção explícita de um pacto social amazônida — um acordo em que desenvolvimento signifique, antes de tudo, saúde, educação e mobilidade digna para quem habita a floresta e as cidades ribeirinhas. Quando as prioridades forem definidas para as comunidades locais, a Amazônia deixará de ser apenas celeiro de recursos e passará a ser território de cidadania plena. Essa é a responsabilidade compartilhada entre Estado, iniciativa privada e sociedade civil que não podemos mais adiar.