Áreas de floresta convertidas em pastagem ou agricultura emitem quase o dobro de carbono para a atmosfera
Este conteúdo foi produzido pela colunista Janaína Guidolini, idealizadora da Accessible Science.
Floresta em pé aumenta a resiliência às mudanças climáticas e conserva a biodiversidade.
Isso é especialmente importante quando falamos de Amazônia Legal Brasileira (ALB), região que apresenta a maior biodiversidade da Terra e a maior quantidade de matéria viva acima do solo. Essa região corresponde a 58,9% do território brasileiro!
Tão importante quanto conhecer a representatividade da ALB para o Planeta, é compreender os movimentos do carbono nessa região, principalmente no que se refere ao uso e cobertura da terra.
Só conhecendo muito bem a dinâmica desse nutriente, torna-se possível reduzir as emissões de gases do efeito estufa e conservar a biodiversidade regional.
Pensando nisso, um grupo de cientistas liderado por Patrícia Monique Crivelari Costa, da Universidade Estadual do Mato Grosso, se aprofundou na temática e desenvolveu a pesquisa intitulada “Changes in Carbon Dioxide Balance Associated with Land Use and Land Cover in Brazilian Legal Amazon Based on Remotely Sensed Imagery”. A pesquisa foi publicada na revista científica Remote Sensing, em 26 de maio de 2023.
Os pesquisadores usaram imagens de satélite para analisar as mudanças no balanço de dióxido de carbono (CO2) associadas ao uso e cobertura da terra na Amazônia Legal Brasileira entre os anos de 2009 e 2019.
Antes de prosseguir, vale lembrar que, ao fazer a fotossíntese, a floresta absorve o CO2 (dióxido de carbono) e libera o O2 (oxigênio).
A pesquisa apresentou resultados bem interessantes: as mudanças no uso e cobertura da terra contribuíram para um aumento nas emissões de gases de efeito estufa, principalmente o CO2. Ou seja, a derrubada de floresta resultou em uma absorção menor de carbono.
Anualmente, a floresta amazônica absorve 211,05 teragramas de carbono (TGc). Um teragrama de carbono é o mesmo que um milhão de toneladas de carbono! A perda parcial da floresta para outros usos, como pastagem e agricultura, resultou em uma redução de 5,82 TGc de carbono absorvido. Ou seja, quanto menor a área de floresta, maior a concentração de CO2 na atmosfera!
As áreas convertidas para pastagens e agricultura aumentaram em 100.340,39 km² – isso equivale a, aproximadamente, duas vezes o tamanho do estado do Piauí, com cerca de 251.529 km². Elas emitiram quase o dobro de carbono quando comparadas a floresta.
As mudanças no uso e cobertura da terra na ALB ocorreram de leste a sul, especialmente próximo a terras indígenas e unidades de conservação, no chamado “arco do desmatamento”.
Vale ressaltar que, no Brasil, as taxas de desmatamento e consequentes mudanças no uso e cobertura da terra em áreas florestais protegidas por terras indígenas e unidades de conservação são até dez vezes menores do que em áreas sem proteção ambiental.
Assim, as áreas protegidas têm impedido o avanço do desmatamento, sendo estratégicas e extremamente importantes no combate ao desmatamento e às mudanças do clima.
Por fim, os pesquisadores ressaltaram a importância de promover o desenvolvimento sustentável na ALB, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e conservando a biodiversidade.
Os resultados dessa pesquisa podem direcionar políticas e estratégias de gestão mais eficientes para a preservação da Amazônia.
Referência
CRIVELARI-COSTA, Patrícia Monique; LIMA, Mendelson; LASCALA JUNIOR, Newton; ROSSI, Fernando Saragosa; DELLA-SILVA, João Lucas; DALAGNOL, Ricardo; TEODORO, Paulo Eduardo; TEODORO, Larissa Pereira Ribeiro; OLIVEIRA, Gabriel de; OLIVEIRA JUNIOR, José Francisco de. Changes in Carbon Dioxide Balance Associated with Land Use and Land Cover in Brazilian Legal Amazon Based on Remotely Sensed Imagery. Remote Sensing, [S.L.], v. 15, n. 11, p. 2780.