Dotar a Amazônia de infraestrutura

Acompanhe importantes debates sobre a economia da Amazônia trazidos pelo Dr. Augusto Rocha.

Este conteúdo foi produzido pelo colunista Augusto Rocha, professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas

A Amazônia ainda é uma fronteira sem infraestrutura. É necessário encontrar um caminho para construir infraestrutura com responsabilidade ambiental. Os erros cometidos no passado precisam parar de ser repetidos no presente e futuro. Precisamos de rodovias, portos, aeroportos e hidrovias, mas não podemos fazer isso sem um olhar atento para a proteção dos delicados ecossistemas das florestas.

Como evitar os erros que foram cometidos em outros biomas nacionais é a grande dúvida não enfrentada. Sabemos claramente como destruir, mas não temos clareza como construir e manter a preservação. Assim, temos alocados os escassos recursos para investimento em infraestrutura apenas onde o país já as possui, aumentando ainda mais o abismo econômico entre as regiões ricas e pobres. Precisamos começar a corrigir as deficiências históricas nas alocações de recurso, reduzindo as desigualdades.

Atualmente o Rio Amazonas sofre uma seca que talvez seja a maior de sua história. Isso levará a restrições de navegação para embarcações de maior porte, como os navios que transportam contêineres ou granéis, em especial pela foz do Rio Madeira e seu entorno. Está claro que a redução do volume d’água provoca o problema, mas não está claro a razão de ele ser tão grave ou se teria uma solução por meio de obras na hidrovia, pois faltam informações claras e cada um tem um chute de preferência.

Quem já fez qualquer obra que envolve questões sistêmicas, seja numa cozinha, seja numa hidrovia, certamente sabe a importância de primeiro entender o que se quer fazer e quais as causas do problema. Será que o problema na hidrovia do Amazonas é decorrente do garimpo ilegal no Rio Madeira, das hidrelétricas ou um problema natural? Enquanto não houver clareza sobre as causas não deve haver obras, pois um movimento apressado para as realizar talvez seja como tentar enxugar gelo ou dragar um rio que terá a mesma areia 24h depois.

A complexidade da Amazônia é expressiva, mas sem enfrentarmos esta complexidade, seguiremos a destruí-la vagarosamente. Precisamos trocar os paradigmas para enfrentar os problemas da região. O isolamento simples guarda para um futuro que nunca chega um potencial de riqueza que nunca se transforma em realidade. Precisaremos sair desta armadilha de pensamento: não fazer nada porque pode ser destrutivo ou destruir porque não se faz nada. Estamos presos nestes dois ciclos, que precisam ser rompidos.

No meio tempo, caberá a Agência Nacional do Transporte Aquaviário (ANTAQ) exercer o seu papel institucional, permitindo novos armadores operarem na região, aumentando a pequena concorrência que existe na cabotagem, constatando se os sobrepreços de frete são ou não abusivos, encontrando alternativas para redução da quantidade de mercadorias transportadas, assegurando a segurança na navegação. São tantas as ações necessárias para que os rios da Amazônia virem hidrovias, que precisamos começar a agir, para que seja removida a impressão de que o futuro nunca chega e estamos em uma armadilha do tempo, presos nos anos 1970.

As rodovias, como a BR-163 (já asfaltada) e a BR-319 (ainda sem asfalto), precisarão ter em sua operação medidas que assegurem a proteção da floresta, para que não sejam formadas novas rotas de desmatamento. Novamente, se seguirmos com os paradigmas dos anos 1970 potencializaremos o desastre ambiental que se abate sobre o mundo. Precisamos encontrar um caminho onde compatibilizemos infraestrutura e meio-ambiente, fora disso só temos destruição lenta e gradual.

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